sexta-feira, 14 de março de 2014

Muitos Mestres: Bodhidharma (Daruma)


Bodhidharma (Daruma no Japão) foi o 28º patriarca do Budismo indiano e o fundador do Zen Budismo na China, alem de fundador do famoso Mosteiro Shaolin no norte da China.
Bodhidharma assim como Sakyamuni era filho de um rei Indiano, e levou os ensinamentos do Zen da Índia para a China, há divergências quanto à data de sua chegada: um relato antigo diz que ele chegou durante a dinastia Liu Song (420–479), ao passo que relatos posteriores dizem que chegou durante a dinastia Liáng (502–557).
Atualmente, aceita-se o início do século V.
Sucessor do Mestre Hannyatara, diz a lenda que ele passou 9 anos meditando para atingir a iluminação. Conta-se que ele ficou sentado sem se mover ou piscar os olhos. Durante o processo, Bodhidharma removeu suas pálpebras de modo que não pudesse dormir durante a meditação, e suas pernas caíram pelo desuso.
Há muitas outras lendas sobre Bodhidharma, uma delas envolve o seu encontro com o Imperador Wu da Dinastia Liang, que o convidou para a corte em Nanking, pouco depois da sua chegada à China.
O imperador era um seguidor do Budismo e tinha feito muito para apoiar e promover a sua expansão, construindo e ajudando a manter mosteiros e templos dentro dos seus domínios.
Tendo ouvido falar sobre este eminente professor indiano, o imperador convocou-o e perguntou-lhe quais os méritos que lhe estavam destinados em vidas futuras como resultado da suas boas acções na sua vida.
A resposta de Bodhidharma foi sucinta: “Nenhum mérito.”
O imperador, algo atordoado, ficou surpreendido com a aparente irreverência deste estrangeiro.
Qual é – perguntou ele então – a essência de tão sagrado ensinamento?
De novo, Bhodhidarma foi firme.
 “Vazio sem limites, nada sagrado”, respondeu.
Perplexo diante deste indiano bárbaro, o Imperador Wu ordenou-lhe, “Quem é esta pessoa que me desafia?”
Então, Bodhidharma revelou a essência do ensinamento.
“Não sei,” respondeu ele.
O imperador, porém, não percebeu o que lhe havia sido apresentado. O conselheiro do imperador disse-lhe que não devia deixar partir assim o grande mestre. E apesar de o Imperador Wu ter procurado que o Bodhidharma regressasse, ele não voltou (alguns estudiosos sugerem que a filha do imperador seguiu Bodhidharma e com ele prosseguiu a sua prática, acabando por se tornar na sua sucessora).

Meditação

Tanlin, no prefácio ao "Duas Entradas e Quatro Atos", e Daoxuan, no "Outras Biografias de Monges Eminentes", mencionam uma prática do Bodhidharma denominada "olhar-parede" (壁觀 bìguān). Tanto Tanlin quanto Daoxuan associam esta prática de "olhar-parede" com a "aquietação da mente" (安心 ān xīn). Em outro lugar, Daoxuan também diz: "Os méritos do método Mahāyāna de olhar-parede são os mais altos". Estas são as primeiras menções no relato histórico do que pode ser um tipo de meditação budista relacionada com Bodhidharma. No "Duas Entradas e Quatro Atos", tradicionalmente atribuído a Bodhidharma, o termo "olhar-parede" também aparece:
"Aqueles que se afastam da Ilusão de volta à Realidade, que 'meditam nas paredes', a ausência de si-mesmo e do outro, a unidade entre mortal e sábio e que mantêm-se impassíveis até mesmo pelas escrituras estão de acordo completo e silencioso com a razão".
Exatamente o quê a prática de "olhar-parede" de Bodhidharma compreendia continua incerto. Quase todos os relatos tratam esta prática como sendo ou uma variação indefinida de meditação, como Daoxuan e Dumoulin, ou como uma variação da meditação sentada parecida com o zazen (坐禪; Chinês: zuòchán), que, posteriormente, tornou-se uma característica definidora do chán; a última interpretação é particularmente comum entre os que trabalham do ponto de vista do chán. Houve, também, interpretações deste "olhar-parede" como um fenómeno não meditativo.

Bodhidharma e as Artes Marciais

Diz a lenda que, ao chegar no templo Shaolin, Bodhidharma deparou-se com a precária condição de saúde dos monges, fruto de sua inatividade. Foi então que ele teria iniciado os monges na prática de uma série de exercícios físicos, ao mesmo tempo em que transmitia-lhes os fundamentos da filosofia zen, com o objetivo de reabilitá-los tanto física quanto espiritualmente.
Os exercícios ensinados por Bodhidharma eram baseados em métodos de respiração profunda e ioga, e seus movimentos se assemelhavam a técnicas de combate. A prática desses exercícios logo tornou-se uma tradição no templo, vindo mais tarde a atingir um estado de evolução tal que pôde ser considerada como um verdadeiro e completo sistema de autodefesa: o kung fu shaolin, que, no Japão, é conhecido como shorinji kenpo.
Esta arte marcial em ascensão logo mostrou sua eficiência: primeiro, com relação à restabelecida saúde dos monges; segundo, como método de defesa pessoal propriamente dito posto em prática contra bandoleiros que, por vez ou outra, saqueavam o templo, de quem os monges, em outros tempos, eram considerados presas fáceis.
Numa lenda, Bodhidharma recusou-se a continuar a ensinar seu futuro estudante, Hui-k'o, que manteve vigília por várias semanas na neve fora do monastério e que cortou seu próprio braço direito para demonstrar sua sinceridade.
O Yi Jin Jing dá crédito a Bodhidharma pelo kung fu shaolin ensinado aos monges do templo Shaolin, o que o tornaria uma influência importante nas artes marciais em geral. O kung fu shaolin se difundiu amplamente pelo país, principalmente durante a Dinastia Ming (1368-1644), vindo mais tarde a conquistar outros países da Ásia e a dar origem a outros estilos de artes marciais, como o caratê de Okinawa.

O boneco Daruma

No Japão, onde ele é conhecido como Daruma, sua grande vontade de atingir um objetivo o tornou um símbolo ideal da realização de um desejo. O bonequinhos Daruma são pintados de vermelho com as características do monge. Eles são redondos, sem braços, pernas e olhos, e eles têm seu peso concentrado na base, ou seja, eles nunca caem. Dessa maneira eles são rebatidos assim que são derrubados, simbolizando nunca se render ou se desesperar quando os tempos são difíceis. Devido a esse fato, eles são conhecidos no Japão como um talismã, assegurando um sucesso eventual. O bonequinhos são preferidos por uma grande diversidade de pessoas, particularmente os vendedores. Os olhos de Daruma são deixados em branco. As pessoas compram e pintam um olho para desejar sucesso em uma prova ou promoção, por exemplo, e quando o desejo se concretiza eles pintam o outro olho.
Os bonequinhos Daruma não tem olhos por várias razões:
Primeiro, Bodhidharma não usava seu olho visível para atingir a iluminação, mas o olho de sua mente.
Segundo, dizem que uma imagem de Buda adquire vida somente quando seu olho é pintado.
Finalmente, há um trocadilho no som "gan", que significa ou requisição ou olho, dependendo do caracter usado para escrevê-lo. Para saber qual olho se deve pintar primeiro, olhe para o Daruma e pinte o olho à sua esquerda enquanto você faz seu o pedido. Pinte o olho à sua direita quando seu desejo for realizado. Então leve-o para o templo local como uma oferta. Daruma e outros ornamentos são geralmente queimados numa fogueira no Ano Novo.

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