terça-feira, 14 de março de 2017

XINTOISMO: Máscaras do Nô – Fantasmas e Espíritos (Onryo)

Fantasmas e Espíritos (Onryo)
Este é o tipo que retrata encarnações de espíritos e pessoas mortas. Eles incluem fantasmas do sexo masculino como Ayakashi, Yase-otoko e Ikkaku-sennin, e femininos como Yamanba e Deigan. Geralmente representam a vingança, esses espíritos são venerados como Deus, sob a crença de que, quando uma pessoa morre, a alma se torna um Deus. 

 









Hannya (般若) A expressão desta máscara é uma fusão de ciúme, tristeza e dor incontrolável de uma mulher. Ela tem uma aparência demoníaca com dois chifres, uma larga boca e a sobrancelha rígida. A palavra Hannya vem do sânscrito, onde seu significado de nada ter a ver com o Demônio japonês.
Trata-se de uma virtude atribuída a Buda: A Sabedoria. Existe até uma oração, a Hannya Shingô. Como amuleto, funciona espantando maus espíritos.


 
 
Hiragata-hannya (平型般若)Foi criada na era Kamakura (1192-1333) no qual muitas máscaras foram criadas. Ele tem uma primitiva, desequilibrada e antiquada face plana faltando elaboração, ao mesmo tempo, a Hannya normal tem uma forma triangular com extrema sofisticação. Diz-se que esta mascara foi a origem de Hannya.

 
Yamanba (山姥)A palavra Yamanba, bruxa ou montanha, lembra a de uma velha mulher louca em contos de fadas, vivendo em uma montanha com uma foice na mão, e sua vida, em carne humana. No entanto, no Yamanba do teatro Nô, ela representa um bom duende que vive em uma montanha. A máscara de Yamanba simboliza uma montanha ninfa.

 
Kawazu (河津/蛙)– Uma máscara chamada Yase-otoko, que retrata um fantasma de um homem morto assombrando este mundo depois que ele foi condenado por matar violentamente. Kawazu é uma deformação do Yase-otoko, tem bochechas ocas e olhos vagos. Também tem cabelos molhados escorridos, que acentua a sua fraqueza e miséria, tornando a platéia se sentir mais tristeza e sofrimento.

 
Yase-onna (痩女) – Ryō-no-onna é um tipo de máscara que retrata uma mulher com ciúme e rancor, que não poderia ir ao Nirvana e se tornou um fantasma. Yase-onna é uma das variações do Ryō-no-onna. Yase-onna tem um olhar humano, com os olhos vagos e bochechas ocas salientando a fraqueza da mulher e à miséria.

 
Ayakashi (怪士)– A máscara é usada para o fantasma de um comandante militar que morreu com um forte rancor. É considerada uma obra-prima, uma vez que descreve tanto a dignidade quanto seu coração. Ele tem olhos oblíquos de anéis de metal brilhante, significando que o personagem tem um caráter e uma forte vontade contra este mundo.

 
Yase-otoko (痩男)– A máscara retrata o desespero de um homem que sofria de muitas coisas. Ela tem pele pálida e medonha, e um fino bigode e sobrancelhas. A boca é quase fechada. Os olhos, porém, têm anéis de metal brilhante, significando que a personagem é alienado ao seres humanos, e tinta vermelha ao redor, fazendo você sentir um profundo rancor. Na época Muromachi (1336-1573), um confeccionador de máscaras chamado Himi, foi bom em fazer máscaras com uma sombra da morte em seu rosto, como Yase-otoko. 

 
Ryūnyo (竜女)– Esta máscara é usada na história de uma mulher mergulhadora; na história, o mergulhador tenta reconquistar uma jóia roubada a partir do Palácio do Rei Dragão, para que seu filho tenha sucesso na vida. A fim de proteger a jóia dos dragões e tubarões na sua fuga, ela própria abre seu peito com um punhal, e coloca a jóia em seu corpo. Esta máscara é usada na cena em que a mergulhadora dança depois que ela se transforma em um dragão do sexo feminino e é levada para Nirvana. A máscara retrata a vontade da mãe que ama seu filho. O cabelo traçado em sua testa retrata um dragão fêmea que só apareceu a partir do mar.

 
Ja (蛇)– A lenda conta que as mulheres transformam-se em serpentes se elas sentem raiva extrema ou muito rancor. A máscara tem uma aparência muito mais brutal do que Hannya, mostrando um assustador rosto com sua boca bem ampla e aberta. O ouro na cor dos olhos e dos dentes significa que o personagem é alienado aos seres humanos, e o vermelho escuro na face, nos faz sentir tumultuosas paixões nunca realizadas. Por outro lado, podemos encontrar a intenção de deixar uma imagem de uma mulher branca na testa. 

 
Namanari (生成)– Esta máscara retrata uma aparição de uma mulher que vive cheia de raiva e rancor depois de ser abandonada pelo marido. Ela habilmente descreve o estado da mulher repleto de emoção. Ela tem pequenos chifres na cabeça e uma ampla boca, e pode ser considerada como uma fase preliminar de se tornar um demônio, que é representado por Hannya. O ouro nos olhos e os dentes distinguem o ser desumano. Por outro lado, tem sobrancelhas na testa, o que nos lembra de uma mulher humana. A máscara é feroz, mas tem um olhar um pouco miserável.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

O dia em que a BSGI tentou banir a Nichiren Soshu do Brasil....

A história entre SGI e Nichiren Soshu infelizmente sempre foi complicada, sempre demonstrando uma raiva reciproca e amargura de de forma alguma deveria fazer parte da vida de um budista, cabe ao budista o caminho do meio, cabe ao budista seguir os oito caminhos em decorrência das quatro nobres verdades, cabe ao budista a harmonia, o silencio e a contemplação.
Em 08/07/2005,  o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), ministro Edson Vidigal, negou liminar que tinha o objetivo de impedir a entrada no território brasileiro de um grupo de dirigentes da religião oriental The Nichiren Shoshu.  A liminar foi pedida em um mandado de segurança impetrado por César Augusto Garcia (Advogado e membro do corpo de advogados da BSGI), que, entre outros aspectos, informa que a religião já foi proibida em diversos países e representa uma "ameaça à liberdade religiosa".

No pedido feito ao STJ, Garcia narra que The Nichiren Shoshu orienta seus fiéis a "arrasar" todas as outras religiões, fato que atentaria contra a liberdade religiosa garantida pela Constituição brasileira. Afirma que seus seguidores teriam causado problemas diversos nos países onde se instalaram, protagonizando casos de pedofilia, enriquecimento ilícito, envolvimento com prostitutas e ataques a outras religiões. Narra o autor que a Argentina proibiu a religião em seu território, cancelando seu registro de culto. Diz também que, em razão de práticas como as descritas, o Supremo Tribunal de Tóquio teria condenado membros da seita por violação de sentimento religioso e guarda de restos mortais.

Para reforçar o pedido, Garcia diz que o líder da religião no Brasil, Abe Nikken, responderia a inquérito na Polícia Federal por falsificação de documento, falsidade ideológica, uso de documento falso e introdução clandestina de estrangeiro no território nacional, além de ser suspeito de integrar uma quadrilha organizada.

Porem...

O relatório do delegado da Polícia Federal Alexander Alves Campos isenta a Nichiren Shoshu da acusação de falsidade. O delegado cita a Resolução Normativa 39 do Conselho Nacional de Imigração, que não traz o requisito de nível superior para concessão de visto temporário a ministro de confissão religiosa. O próprio delegado afirma não haver motivação para falsificação do documento alegado, uma vez que não é exigido pela legislação brasileira. No mesmo documento, a Interpol confirmou a existência da Nichiren Shoshu no Japão. (relatório IP datado em 26 de janeiro de 2005)

"Abster-se de mentir, falar em vão, usar palavras ásperas ou caluniosas. Falar a verdade, ter uma fala construtiva, harmoniosa, conciliadora"
Este é o terceiro do Nobre Caminho Óctuplo do budismo.

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Lao Tse e o Taoismo




O Taoísmo surgiu na China, durante a dinastia do imperador Han, no século II. A origem da filosofia Taoísta é atribuída aos ensinamentos do mestre chinês Lao Tsé (velho mestre), um contemporâneo de Confuncio, nos anos 550 a.C. Tchuang-tseu, um discípulo de Lao Tsé e filósofo chinês, que morreu no princípio do século III, desenvolveu e proliferou os ensinamentos de seu mestre. Tchuang-tseu escreveu uma média de 33 livros sobre a filosofia de Lao-Tsé, que resultou na composição de 1.120 volumes, os quais formam o Cânon Taoista. Ele acreditava que o "Tao-te-Ching" era a fonte da sabedoria e a solução para todos os problemas da vida

HISTÓRIA

Lao Tsé nasceu no sul da China por volta do ano 604 a.C. Ocupava um importante cargo no governo, como superintendente judicial dos arquivos imperiais em Loyang, capital do estado de Ch'u. Por desaprovar o sistema tirânico de governo dos regentes chineses, Lao Tsé renunciou ao seu cargo e passou a ensinar que os homens deveriam viver uma vida simples, sem honrarias ou conhecimento.

Os ensinos de LaoTsé eram, em parte, uma reação contra o Confucionismo humanístico e ético daquele tempo, o qual ensinava que as pessoas só poderiam viver uma vida exemplar, se estivessem em uma sociedade bem disciplinada, e que se dedicassem aos rituais, deveres e serviços públicos. O Taoismo, por sua vez, enfatizava que as pessoas deveriam evitar todo tipo de obrigações e convívios sociais, e se dedicassem a uma vida simples, espontânea e meditativa, voltada à natureza.

Aos 80 anos de idade, Lao Tsé comprou um boi e uma carroça e partiu em direção ao Tibete. Ao chegar a fronteira da província, Yin-hsi, um policial o reconheceu e não o deixou passar exigindo que, para cruzar a fronteira, Lao Tsé deveria deixar seus ensinamentos por escrito.

Lao Tsé, regressou para sua casa e após três dias retornou com os ensinamentos escritos em um pequeno livro com aproximadamente 5.500 palavras que ele denominou de "Tao te Ching", o "Caminho e seu Poder" ou o "Caminho e Princípios Morais". 
Logo após, ele montou em um búfalo e partiu para nunca mais voltar. Lao Tsé morreu no ano 517 a.C. 


SISTEMA DE CRENÇAS

O Taoísmo se baseia em um sistema politeísta e filosófico de crenças que assimilam os antigos elementos místicos e enigmáticos da religião popular chinesa, como: culto aos ancestrais, rituais de exorcismo, alquimia e magia. O Taoísmo é uma religião anti-intelectual, que leva o homem a contemplar e se sujeitar às leis da natureza, ao invés de tentar compreender a estrutura destes princípios. O credo do Taoísmo é: "Sujeite-se ao efeito, e não busque descobrir a natureza da causa" A doutrina básica do Taoísmo se resume em uma forma prática, conhecida como as "Três Jóias": compaixão, moderação e humilhação
A bondade, simplicidade e delicadeza também são virtudes valorizadas no Taoismo.

Segundo os ensinamentos do Taoismo, o Tao (caminho) é considerado a única fonte do universo, eterno e determinante de todas as coisas. Os taoistas crêm que quando os eventos e coisas são permitidas existir em harmonia natural com a força macro-cósmica, então existe paz. 

DEUS

LaoTsé escreveu: "Antes do céu e da terra existirem, havia algo nebuloso... Eu não sei o seu nome, e eu o chamo de Tao."

YIN e YANG

O Taoismo considera que tudo no mundo é composto pelos elementos opostos Yin e Yang. O lado positivo é o yang, e o negativo, o yin. Esses elementos transformam-se, complementam-se e estão em eterno movimento, equilibrados pelo invisível e onipresente Tao.

Yang é a força positiva do bem, da luz e da masculinidade.
Yin é a essência negativa do mal, da morte e da feminilidade.

Quando esses elementos não estão equilibrados, o ritmo da natureza é interrompido com desajustes, resultando em conflitos. A filosofia taoista ensina que, da mesma forma que a água se modela dentro de um copo, o homem deve aprender a equilibrar seu Yin e Yang, a fim de viver em harmonia com essa força universal, o Tao.


RITUAIS

CULTO AOS ANCESTRAIS
Para os chineses, a maioria dos deuses são pessoas que tiveram poder excepcional durante a sua vida. Por exemplo, Guan Di, que é o deus protetor dos negociantes, foi um general dos anos 200 d.C. 

EXORCISMO
O Taoismo possui um sacerdócio hereditário, principalmente em Taiwan. Esses sacerdotes dirigem rituais públicos, durante os quais, eles submetem as orações do povo aos deuses. O sacerdote principal, que no momento da cerimônia se encontra em transe, se dirige a outras divindades, representando outros aspectos do Tao, em favor do povo. O Taoismo enfatiza que os demônios devem ser aplacados com presentes, a fim de assegurar a passagem do homem na terra. 

ALQUIMIA

Enquanto os Alquimistas na Europa Medieval procuravam, sobretudo, descobrir a pedra filosofal e o elixir da longa vida, o imperador Shi Han enviava expedições navais para várias ilhas, a fim de descobrir a erva da imortalidade. O imperador Wu Tsung tomou medicamentos taoístas para eterificar seus ossos. Os chineses buscam no Taoismo a cura de seus males físicos e a libertação de espíritos maus.

MAGIA

Os discípulos de Lao Tsé praticavam a arte oculta da magia para produzir, por meio de certos atos e palavras ou por interferência de espíritos (demônios), efeitos e fenômenos contrários às leis naturais. Diziam ter poder sobre a natureza e se tornaram adivinhos e exorcistas.

NECROMANCIA

A consulta aos mortos teve início no século II, quando o imperador Han edificou um templo em honra a Lao Tsé, e o próprio imperador ofereceu sacrifícios à ele.


MANIFESTAÇÕES POPULARES

ARTES MARCIAIS

É ensinado nas artes marciais como: kung-fu, wo-shu, karatê, judô, aikidô, tai-chi-chuan e jujitsu, que o equilíbrio da pessoa com o Tao é estabelecido quando a "Força" ou "Ch'i", uma energia que sustenta a vida, flui no corpo e se estende a fim de destruir o seu oponente.

ACUPUNTURA

Usando a mesma filosofia, eles vêm a saúde fisiológica como a evidência do equilíbrio do Yin e Yang. Se estes elementos estão desequilibrados, as enfermidades surgem. Eles ensinam que para restaurar a saúde necessita haver uma ruptura no fluxo do Yin e Yang, o qual é feito através de agulhas inseridas no corpo. Uma vez que o equilíbrio dos elementos tenham sido restabelecidos, a força do Tao pode fluir livremente no corpo trazendo a cura.

CHI-KUNG

Tradicional arte chinesa de autoterapia baseada nos mesmos princípios da acupuntura.

YOGA

Apesar da yoga não referenciar ao Taoísmo, ela incorpora a mesma filosofia da "Força" como sustentador da vida e da estética. O Taoísmo professa a longevidade e a imortalidade física pela perfeita submissão à ordem natural universal, através da yoga, meditação, prática de exercícios físicos e respiratórios e dietas especiais.

O TAOISMO NA ATUALIDADE

Perseguido na República Popular da China a partir de 1949, o Taoismo conta atualmente, com cerca de três mil monges e 20 milhões de adeptos em todo o mundo, sendo muito popular em Hong Kong e na Tailândia, com mais de 360 templos. O Taoismo está dividido em dois ramos: o religioso e o filosófico.

O Taoismo religioso possui escritura sagrada, sacerdócio, templos e discípulos. Também crêem numa nova era que há de vir para derrotar o sistema estabelecido. Ao contrário de outras religiões, não professa a vida após a morte, mas busca a longevidade e a imortalidade física pela perfeita submissão à ordem natural universal. Somente a partir do século VII é que o Taoísmo veio a ser aceito como religião formal. Com o passar do tempo, incluiu em seu sistema religioso a crença em deuses, céu e inferno e a deificação de Lao Tsé.

O Taoismo filosófico é adeísta e busca levar o homem a uma harmonia com a natureza através do livre exercício dos instintos e da prática de mentalizações. Os pontos essenciais da doutrina são: o Tao é a única fonte do universo e determina todas as coisas; tudo no mundo é composto pelos elementos opostos yin e yang. Esses elementos transformam-se uns nos outros e estão em eterno movimento, equilibrado pelo invisível e onipresente Tao; a melhor maneira de agir é seguir as leis da natureza, em cuja aparente mutação se oculta a unidade do Tao. Embora formulado há mais de 2.500 anos, o taoismo filosófico continua influenciando a vida cultural e política da China até hoje. 

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

O TAO e a sabedoria do silencio interno




Pense no que vai dizer antes de abrir a boca. Seja breve e preciso, já que cada vez que deixa sair uma palavra, deixa sair uma parte do seu Chi (energia). Assim, aprenderá a desenvolver a arte de falar sem perder energia.

Nunca faça promessas que não possa cumprir. Não se queixe, nem utilize palavras que projectem imagens negativas, porque se reproduzirá ao seu redor tudo o que tenha fabricado com as suas palavras carregadas de Chi.

Se não tem nada de bom, verdadeiro e útil a dizer, é melhor não dizer nada. Aprenda a ser como um espelho: observe e reflicta a energia. O Universo é o melhor exemplo de um espelho que a natureza nos deu, porque aceita, sem condições, os nossos pensamentos, emoções, palavras e acções, e envia-nos o reflexo da nossa própria energia através das diferentes circunstâncias que se apresentam nas nossas vidas.

Se se identifica com o êxito, terá êxito. Se se identifica com o fracasso, terá fracasso. Assim, podemos observar que as circunstâncias que vivemos são simplesmente manifestações externas do conteúdo da nossa conversa interna. Aprenda a ser como o universo, escutando e reflectindo a energia sem emoções densas e sem preconceitos.

Porque, sendo como um espelho, com o poder mental tranquilo e em silêncio, sem lhe dar oportunidade de se impor com as suas opiniões pessoais, e evitando reacções emocionais excessivas, tem oportunidade de uma comunicação sincera e fluída.

Não se dê demasiada importância, e seja humilde, pois quanto mais se mostra superior, inteligente e prepotente, mais se torna prisioneiro da sua própria imagem e vive num mundo de tensão e ilusões. Seja discreto, preserve a sua vida íntima. Desta forma libertar-se-á da opinião dos outros e terá uma vida tranquila e benevolente invisível, misteriosa, indefinível, insondável como o TAO.

Não entre em competição com os demais, a terra que nos nutre dá-nos o necessário. Ajude o próximo a perceber as suas próprias virtudes e qualidades, a brilhar. O espírito competitivo faz com que o ego cresça e, inevitavelmente, crie conflitos. Tenha confiança em si mesmo. Preserve a sua paz interior, evitando entrar na provação e nas trapaças dos outros. Não se comprometa facilmente, agindo de maneira precipitada, sem ter consciência profunda da situação.

Tenha um momento de silêncio interno para considerar tudo que se apresenta e só então tome uma decisão. Assim desenvolverá a confiança em si mesmo e a Sabedoria. Se realmente há algo que não sabe, ou para que não tenha resposta, aceite o fato. Não saber é muito incómodo para o ego, porque ele gosta de saber tudo, ter sempre razão e dar a sua opinião muito pessoal. Mas, na realidade, o ego nada sabe, simplesmente faz acreditar que sabe.

Evite julgar ou criticar. O TAO é imparcial nos seus juízos: não critica ninguém, tem uma compaixão infinita e não conhece a dualidade. Cada vez que julga alguém, a única coisa que faz é expressar a sua opinião pessoal, e isso é uma perda de energia, é puro ruído. Julgar é uma maneira de esconder as nossas próprias fraquezas.

O Sábio tolera tudo sem dizer uma palavra. Tudo o que o incomoda nos outros é uma projecção do que não venceu em si mesmo. Deixe que cada um resolva os seus problemas e concentre a sua energia na sua própria vida. Ocupe-se de si mesmo, não se defenda. Quando tenta defender-se, está a dar demasiada importância às palavras dos outros, a dar mais força à agressão deles.

Se aceita não se defender, mostra que as opiniões dos demais não o afectam, que são simplesmente opiniões, e que não necessita de os convencer para ser feliz. O seu silêncio interno torna-o impassível. Faça uso regular do silêncio para educar o seu ego, que tem o mau costume de falar o tempo todo.

Pratique a arte de não falar. Tome algumas horas para se abster de falar. Este é um exercício excelente para conhecer e aprender o universo do TAO ilimitado, em vez de tentar explicar o que é o TAO. Progressivamente desenvolverá a arte de falar sem falar, e a sua verdadeira natureza interna substituirá a sua personalidade artificial, deixando aparecer a luz do seu coração e o poder da sabedoria do silêncio.

Graças a essa força, atrairá para si tudo o que necessita para a sua própria realização e completa libertação. Porém, tem que ter cuidado para que o ego não se infiltre… O Poder permanece quando o ego se mantém tranquilo e em silêncio. Se o ego se impõe e abusa desse Poder, este converter-se-á num veneno, que o envenenará rapidamente.

Fique em silêncio, cultive o seu próprio poder interno. Respeite a vida de tudo o que existe no mundo. Não force, manipule ou controle o próximo. Converta-se no seu próprio Mestre e deixe os demais serem o que têm a capacidade de ser. Por outras palavras, viva seguindo a via sagrada do TAO.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

As pedras do budismo




Os ensinamentos de Buda Sakyamuni transmitida através de numerosas linhagens de mestres que se espalharam por vários países. Quando morreu, seus ensinamentos estavam bem estabelecidos na região central da Índia. Havia muitos seguidores leigos, mas o coração da comunidade eram os monges mendicantes, os bhiksus. Sua doutrina se espalhou por uma poderosa rede de mosteiros e tomou diversas formas, adaptando-se a diferentes situações históricas e culturais. Essa característica flexível do Budismo seria determinante para sua difusão. Por ser ele mesmo mutável e impermanente, o Budismo tem um mecanismo interno que barra o fundamentalismo – risco presente em outras religiões, cuja história está manchada de sangue.
Não deveis aceitar nada por ouvir falar, tampouco porque está nas escrituras”, disse Buda. Como sua ênfase é a compaixão, o Budismo não define a si mesmo como solução melhor que qualquer outra. O Budismo primitivo, a rigor, nem era uma religião, mas um conjunto de práticas morais e mentais. No que diz respeito à meditação, essas práticas podem ser vistas como simples técnicas, que não implicam em compromisso com nenhum tipo de religiosidade.
Como resultado da sua expansão, cerca de 300 anos depois da morte de Buda, o Budismo já se dividia em 18 escolas. Seus ensinamentos, mantidos por transmissão oral, agora estavam escritos. Vários concílios foram organizados para dar homogeneidade às escrituras das diversas escolas. Um deles, realizado no século III a.C., resultou no chamado Cânone Páli, o registro mais antigo dos ensinamentos budistas. Pouco depois, o Budismo dividiu-se em duas tradições, cada uma delas afirmando-se como possuidora do verdadeiro sentido da palavra de Buda. A tradição Theravada, ou “à maneira dos antigos”, que se baseava exclusivamente nos textos escritos na língua páli, espalhou-se pelo sudeste da Ásia. Para o praticante Theravada, Buda não era um deus, mas sim um grande sábio. O objetivo do caminho Theravada é iluminação individual.
A outra tradição é a Mahayana (literalmente “Grande Veículo”), que se instalou sobretudo na China, Coréia e Japão. A base de seus ensinamentos também está na prática da meditação. No Budismo Mahayana, porém, Buda já não é apenas um sábio, mas uma divindade reverenciada. Assim como os chamados bodhisatvas, seres considerados iluminados, que adiam sua entrada no nirvana para poder ajudar na iluminação de outros.Sidarta, ou Buda Sakiyamuni, jamais se apresentou como um enviado, salvador ou reencarnação de quem quer que fosse. Nos seus discursos não há referência sequer ao fato de que existe reencarnação. Ele não disse palavra a favor ou contra a idéia de Deus.
O conceito de buda já não se restringia a Sidarta, o Buda Sakyamuni. Passou a definir um princípio fundamental de iluminação espiritual. Sakyamuni já não era mais “o” buda, mas sim “um” buda. As tradições orientais sustentam que houve muitos budas no passado e que ainda haverá muitos outros no futuro. Ampliando o conceito de que há tantos budas quanto grãos de areia, expandiu-se amigavelmente pelo Oriente, incorporando uma infinidade de arquétipos ou divindades locais. Isso explica por que existem tantas imagens diferentes do Iluminado. Quando ele é representado como um asceta esquelético, refere-se ao Sidarta da fase pré-Buda. Quando mostrado como um meditador sereno, é o Buda Sakyamuni.
O mesmo ocorre com os dhianybudas, ou budas da meditação, aos quais se atribuem significados ocultos. Ou com as 21 belas figuras da jovem Tara – representação do aspecto feminino e compassivo de Buda, cultuada na tradição tibetana. Também vêm do Tibete as famosas imagens de budas em abraços sexuais com suas consortes, um símbolo da unidade entre iluminação e sabedoria.
Apesar do grande florescimento que teve em sua terra natal, o Budismo foi varrido da Índia em decorrência das invasões dos hunos no século V d.C. e dos islâmicos nos séculos XII e XIII. A corrente que mais se expandiu foi a Mahayana, por ser menos ortodoxa que a Theravada. O maior desenvolvimento do Budismo aconteceu na China, onde chegou no século I d.C., e, depois, na Coréia e no Japão. Seu encontro com as tradições chinesas deu origem à escola de meditação Ch’an e, mais tarde, no Japão, ao Zen Budismo. “Zen” é uma palavra japonesa derivada do chinês ch’an, que vem do sânscrito dhyana – técnica que, segundo a psicologia do yoga, conduz a um elevado estado de consciência em que o homem une-se com o universo. Os chineses preferiram encontrar essa união no trabalho cotidiano, em vez de na meditação solitária numa floresta, como o próprio Sidarta.
O Zen é um dos mais importantes herdeiros da vertente Mahayana -– só equiparado pela corrente Vajrayana, que se desenvolveu no Tibete. Chamado de “Caminho do Diamante”, o Vajrayana tem suas origens encravadas em textos budistas do século II, registrados nos chamados tantras, escrituras esotéricas sobre a transformação da mente através de meditações, visualizações e ritos. Essa linha surgiu no norte da Índia há cerca de 2 000 anos e hoje é seguida pela tradição tibetana.
O Budismo só penetraria no Ocidente a partir do século XIX, com o estudo das culturas da Índia e a publicação de O Mundo como Vontade e Idéia. Nesse livro, o alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860), que influenciaria muitos outros filósofos, como Friedrich Nietzsche, mergulha nos ensinamentos budistas.

Principios do budismo

AS QUATRO NOBRES VERDADES
  • Sofrimento: É a característica básica da nossa existência. Tudo é sofrimento: nascimento, doença e morte; encontrar algo não apreciado; não obter o que se deseja, separar-se de algo desejado. 
  • Origem do sofrimento: Sua causa está nos anseios, nos desejos, no apego e na sede de satisfação dos sentidos. Tudo isso prende as pessoas ao ciclo da existência (samsara). 
  • Cessação do sofrimento: Pela eliminação dos desejos e do apego pode-se extinguir o sofrimento. 
  • Caminho que leva à cessação do sofrimento: Para os budistas da linha Theravada, o meio de pôr fim ao sofrimento é o Nobre Caminho Óctuplo. Para os budistas da linha Mahayana, são as Seis Perfeições.
O NOBRE CAMINHO ÓCTUPLO
  1. Compreensão correta, baseada no entendimento das Quatro Nobres Verdades e na consciência de que não existe um “eu” individual: tudo está interligado.
  2. Atitude correta, favorável à renúncia e à boa vontade, buscando não prejudicar os seres sensíveis.
  3. Fala correta: evitar mentir, caluniar e bisbilhotar.
  4. Ação correta: evitar, sobretudo, matar, roubar e praticar sexo ilícito (estupro e pedofilia, por exemplo).
  5. Modo de vida correto: evitar profissões que causem sofrimento aos outros, como caçador ou fabricante de armas.
  6. Esforço correto: pensar antes de agir, cultivando pensamentos, palavras e ações nobres.
  7. Atenção correta: percepção contínua do corpo, dos sentimentos e dos objetos de pensamento.
  8. Concentração correta: o cultivo de uma mente tranqüila, que encontra seu ponto mais elevado na absorção meditativa.
AS SEIS PERFEIÇÕES
  1. Generosidade
  2. Paciência
  3. Ética
  4. Esforço entusiástico
  5. Concentração
  6. Sabedoria
OUTROS CONCEITOS-CHAVE

Buda provavelmente falava num dialeto chamado maghadi e seus ensinamentos foram registrados na língua páli. Salvo exceções indicadas, os termos a seguir estão na forma como foram transliterados do sânscrito ou na maneira como foram incorporados à língua portuguesa.
  • Ahimsa: “Não-violência”. É a base ética do Budismo.
  • Anatman:“Não-eu”. Para o Budismo, não existe um “eu”: cada um de nós é uma soma de várias experiências de vida, em eterna mutação. Ignorar isso é a principal causa do sofrimento.
  • Arhat:“Santo”. Pessoa que atingiu a iluminação quase completa. O ideal do caminho Theravada.
  • Bhiksu:Monge mendicante que entrou para a vida errante.
  • Bodhisatva:Ser que aspira à condição de Buda pela prática das seis perfeições e que se compromete a abrir mão do nirvana até que tenha levado todos os seres sensíveis à iluminação. É o ideal do caminho Mahayana.
  • Carma:“Ação”. É a lei de causa e efeito que rege o universo. Não significa destino no sentido fatalista, mas sim o que recai sobre cada um como resultado do seu comportamento.
  • Darma:“Doutrina”. O termo Budismo é uma invenção ocidental para o que os budistas chamam de Buda-darma: ensinamento de Buda; lei cósmica; caminho para o nirvana.
  • Impermanência
  • Transitoriedade da matéria, do pensamento, do corpo humano e da própria idéia de “eu”. Como todas as coisas são impermanentes, nos escapam tão logo tentamos possuí-las. A frustração desse desejo de posse é a causa imediata do sofrimento.
  • Mahayana:“Grande veículo”. É um dos caminhos do Budismo. Inclui a maior parte das escolas existentes.
  • Lama (tibetano):“Ninguém acima”. Significa guru, mestre espiritual.
  • Nirvana:“Extinção”, “apagamento”. É a meta da prática espiritual. Não deve ser entendida como aniquilação, mas sim como entrada em outra forma de existência. Psicologicamente, é um estado de grande liberdade e espontaneidade. “O nirvana nos ensina que já somos aquilo que queremos nos tornar”, diz o monge vietnamita Thich Nhat Hanh.
  • Samsara:“Roda do sofrimento”. Ciclo que rege a inquieta existência humana e se alimenta de apego, desejos, ódio e ilusão. É nele próprio que se deve procurar sua extinção – ou nirvana.
  • Sunyata:“Vazio”, “vácuo”. Conceito segundo o qual todas as coisas – incluindo você, leitor – não contêm essência, apenas aparência.
  • Tendrel (tibetano):“Interdependência”. Tudo depende de outra coisa. Observador, observação e objeto observado são partes de um só movimento.
  • Theravada:“À maneira dos anciãos”. Uma das principais escolas do Budismo, é a mais tradicionalista.
  • Vajrayana:“Veículo do diamante”. Caminho tântrico e ocultista do Budismo.

A árvore da sabedoria silenciosa

Ao longo dos últimos 2 500 anos, os ensinamentos de Buda floresceram em dois ramos principais.
O primeiro – Theravada, ou Hinayana, “Caminho Estreito” – para os puristas e ortodoxos, foi para um lado. O segundo – Mahayana, “Grande Caminho” –, aberto a todas as experimentações, foi para o outro e se multiplicou em uma espantosa variedade de movimentos e escolas espiritualistas, inclusive no Ocidente

 
1 - Theravada (Séc. II a.C.)
O Theravada tem hoje 125 milhões de adeptos (38% dos budistas) em Sri Lanka, Birmânia, Laos, Tailândia e Camboja. O movimento segue as antigas escrituras na língua páli, na qual foram registrados os primeiros documentos budistas. Sua prática enfatiza a busca da iluminação individual. O nome Hinayana (Pequeno Veículo), comumente atribuído a eles, foi criado pela corrente Mahayana e não é aceito pelos Theravada

2 - Mahayana (Séc. II a.C.)
A corrente principal do Budismo tem hoje 185 milhões de adeptos (56% do total). O Mahayana (Grande Veículo) abriga várias escolas e linhagens. Não professa o caminho individual mas “a iluminação em benefício de todos os seres”. É aberto a diferentes crenças e ritos devocionais e enfatiza a prática da compaixão

3 - Vajrayana (Séc. II)
Essa linha tem hoje 20 milhões de adeptos (6% dos budistas), principalmente nos países do Himalaia: Tibete, Butão, Nepal e Mongólia O Vajrayana (Veículo do Diamante) surgiu no norte da Índia e, mais tarde, chegou à China, ao Japão e ao Tibete. Prosseguimento dos métodos Theravada e Mahayana, tem suas origens nos tantras, escrituras esotéricas que ritualizam diversas práticas para a transformação da mente

4 - Zen
Desenvolve-se a partir do século XII no Japão, buscando o máximo de simplicidade e desprezando o intelectualismo e os aspectos sobrenaturais e ritualísticos das religiões. Cada ato do cotidiano deve ser uma meditação. Essa mentalidade criou artes e disciplinas especiais para desenvolver a concentração, como jardinagem, arranjos florais e outras modalidades:

  • Pintura: O que mais importa é o espaço vazio, buscando o máximo de expressividade com o mínimo de pinceladas
  • Poesia: Sua forma tradicional está nos haikai, poemas curtíssimos como este clássico de Mitsuo Bashô.
  • Koans:São uma espécie de pegadinhas, sem respostas lógicas, usadas para treinar a mente: “Que som é produzido quando se bate palmas com uma mão só?”
  • Cerimônia do chá:Preparar essa bebida tão simples torna-se um ritual de atenção plena e absorção em quietude espiritual
Japão
Presente no país desde 621, o Budismo dá origem a várias escolas e seitas, nas quais se mistura ao Xintoísmo – grupo de antigas religiões locais. A escola que mais se expandiria no Ocidente é a Zen

China
O Budismo chega ao país no século I e funde-se à religiosidade local. Nas novas escolas que surgem, nem sempre se percebe onde acaba o Budismo e onde começa o Taoísmo – doutrina de Lao Tsé, para quem o Tao, “fluxo natural”, é a essência do universo. A escola Ch’an (Meditação) é uma espécie de avó do Zen Budismo

Tibete
No século VIII, o Budismo Vajrayana funde-se com as religiões xamânicas do Tibete, altamente ritualizadas. O Budismo tibetano organiza-se em quatro escolas principais, formadas por várias linhagens (Nyingma, Gelupa, Kagyiu e Sakya)

Sidarta Gautama, O Buda (563 a.C. – 483 a.C.)
Duzentos anos depois da morte de Buda, ainda na Índia o Budismo se divide em dois movimentos: Mahayana e Theravada seguem os sutras, discursos feitos por Sidarta. Quatro séculos depois, surge um terceiro movimento (Vajrayana) com base nos tantras, ensinamentos secretos também atribuídos ao Buda

A trilha do mestre

Os caminhos percorridos pelo Buda em vida vão do Nepal ao nordeste da Índia
1. Lumbini
Sidarta Gautama nasceu na primavera de 563 a.C. no antigo reino dos sakyas – região que hoje pertence ao Nepal

2. Kapilavastu
Aqui ficava o palácio onde, durante 29 anos, o príncipe Sidarta desfrutou de uma vida de luxo e prazeres – até abandoná-la para partir em sua busca espiritual

3. Uruvela e Bodhgaya
Depois de seis anos jejuando e meditando em Uruvela, ele deslocou-se para Bodhgaya, uma região próxima. Esse local tornou-se o maior centro de peregrinação budista, pois foi onde Sidarta atingiu a iluminação

4. Sarnath
Foi em Sarnath (perto da atual Varanasi), que Buda fez seu primeiro discurso depois da iluminação e revelou as Quatro Nobres Verdades, base da sua doutrina

5. Rajgir
Aqui Buda recebeu apoio de comerciantes e da realeza, o que permitiu fundar mosteiros que se tornaram os principais centros de difusão de seus ensinamentos

6. Nalanda
Construída no tempo de Buda e fortemente influenciada por sua doutrina, Nalanda foi uma das primeiras universidades do mundo. No seu apogeu, teve 1 500 professores de disciplinas como gramática, filosofia, astronomia e medicina. Foi destruída pelos muçulmanos no século XIII

7. Kushinagar
Foi nessa região, hoje ocupada pelo Nepal, que o Buda morreu, aos 80 anos, em 483 a.C. Segundo seus discípulos, ele teria atingido o que chamam de mahaparinirvana (“grande cessação da existência”). Suas últimas palavras: “Tudo é impermanente”

E a pedra fundamental.... o caminho do meio....

  • A prática de não-extremismo: um caminho de moderação e distância entre a auto-indulgência e a morte;
  • O meio-termo entre determinadas visões metafísicas;
  • Uma explicação do nirvana (perfeita iluminação), um estado no qual fica claro que todas as dualidades aparentes no mundo são ilusórias.

domingo, 30 de março de 2014

Contos Zen: O Sábio e a borboleta

Certa vez o mestre taoísta Chuang Tzu sonhou que era uma borboleta, voando alegremente aqui e ali. No sonho ele não tinha mais a mínima consciência de sua individualidade como pessoa. Ele era realmente uma borboleta. Repentinamente, ele acordou e descobriu-se deitado ali, um pessoa novamente.
Mas então ele pensou para si mesmo:
"Fui antes um homem que sonhava ser uma borboleta ou sou agora uma borboleta que sonha em ser um homem?"

Zenbudismo: Zazen, o primeiro passo é para dentro...

Sakyamuni em Zazen

Zazen (japonês: 坐禅; chinês: zuò chán (pinyin) ou tso-chan (Wade-Giles)) é a base da prática Zen Budista.
O objetivo do zazen é "apenas sentar", com a mente aberta, sem apegar-se aos pensamentos que fluem livremente. Isto é feito tanto através do uso de koans, o principal método Rinzai, ou o sentar-se completamente alerta (o "apenas sentar", shikantaza), o qual é o método da escola Soto.
O princípio do zazen é o de que uma vez que a mente esteja livre de suas diversas camadas, pode-se realizar a natureza búdica, atingindo-se a iluminação (satori/Nivana).

Do sutra de lotus: 

"Nesse momento o Honrado Pelo Mundo despertou calmamente do seu samadhi e dirigiu-se a Shariputra, dizendo: ”A sabedoria de Buda é infinitamente profunda e imensurável. O acesso a esta sabedoria é difícil de compreender e difícil de transpor".

A prática correta do Zazen

por Shunryu Suzuki
(
http://daissen.org.br/hp/index.php?id=&s=ct&menu_id=2)

Postura 

Hoje, eu gostaria de falar sobre a postura zazen. Quando você se senta na posição de lótus completo, seu pé esquerdo fica sobre sua coxa direita, seu pé direito, sobre a coxa esquerda. Ao cruzarmos as pernas desse jeito, embora tenhamos uma perna esquerda e outra direita, elas se tornam uma só. A postura expressa a unidade da dualidade: nem dois, nem um. Este é o ensinamento mais importante: nem dois, nem um. Nosso corpo e mente não são dois, nem um. Se você pensa que seu corpo e mente são dois, está errado. Se pensa que são um, também está errado. Nosso corpo e mente são dois e um ao mesmo tempo. Habitualmente, pensamos que se algo não é um, é mais do que um; que se algo não é singular, é plural. Mas, na prática, nossa vida não é só plural, é também singular. Cada um de nós é duas coisas ao mesmo tempo: dependente e independente.
Depois de viver certo número de anos, morremos. É errado pensar que isto seja o fim de nossa vida. Mas, por outro lado, achar que não morremos também está errado. Morremos e não morremos. Este é o entendimento correto. Alguns podem dizer que nossa mente, ou alma, existe para sempre e que é apenas nosso corpo físico que morre. Isso não é bem assim porque ambos, corpo e mente, têm fim. Mas, também é verdade que ambos existem eternamente. Embora se diga corpo e mente, eles são de fato dois lados da mesma moeda. Este é o entendimento correto. Assim, a postura zazen simboliza essa verdade. Quando meu pé esquerdo está sobre o lado direito de meu corpo e o pé direito sobre o lado esquerdo, eu não sei qual é qual. Tanto pode ser um como outro.
A coisa mais importante na postura zazen é manter a coluna reta. Orelhas e ombros devem ficar alinhados. Relaxe os ombros e estique a parte superior da cabeça em direção ao teto. O queixo deve ficar ligeiramente recuado para dentro. Quando o queixo está erguido, você não tem firmeza na postura, com o que e provável que sua mente se ponha a vaguear. Assim, para reforçar sua postura, pressione o diafragma para baixo, em direção ao seu hara ou parte baixa do abdome. Isso o ajudará a manter o equilíbrio físico e mental. Ao tentar manter essa postura, poderá encontrar alguma dificuldade inicial em respirar de maneira natural, mas quando se acostumar a ela será capaz de respirar normal e profundamente.
Suas mãos devem formar o mudra cósmico. Se puser o dorso da mão esquerda sobre a palma da direita, as juntas dos dedos médios encostadas umas sobre as outras, as pontas dos polegares tocando-se levemente (como se estivessem segurando uma folha de papel), suas mãos formarão um belo oval. Mantenha esse mudra cósmico com todo cuidado, como que segurando algo precioso. Suas mãos devem estar junto ao corpo, de forma que os polegares fiquem à altura do umbigo. Mantenha os braços livres e relaxados, ligeiramente afastados do tronco, como se estivessem segurando um ovo em cada axila, sem quebrá-lo.
Não deve inclinar-se para os lados, nem para a frente, nem para trás. Deve ficar sentado bem reto, como se estivesse sustentando o céu sobre a cabeça. Isto não é apenas postura ou respiração. Isto expressa o ponto chave do buddhismo. E uma expressão perfeita da sua própria natureza búddhica. Se você busca a verdadeira compreensão do buddhismo, tem de praticar deste modo. Estas formas não são meios para obter um estado mental correto. Assumir a postura já é, em si, o propósito da nossa prática. Ao se colocar nessa postura, sua mente fica naturalmente em estado correto; portanto, não há necessidade de buscar um estado especial da mente. Quando você tenta obter algo, sua mente começa a divagar por outros lugares. Quando você não se ocupa em obter algo, seu corpo e sua mente permanecem juntos, presentes onde você está. Um mestre Zen diria: "Mate o Buddha". Isto é, mate o Buddha se ele existe em algum outro lugar. Mate o Buddha porque é você que deve reaver sua própria natureza búddhica.
Fazer algo é expressar nossa natureza. Não existimos por nenhuma outra razão senão a de sermos nós mesmos. Esse é o ensinamento fundamental, expresso nas formas que observamos. Por exemplo, quando nos sentamos ou ficamos em pé no zendô, seguimos certas regras. O propósito dessas regras não é fazer com que todos sejam iguais e sim permitir que cada um expresse o seu próprio eu mais livremente. Por exemplo: cada um de nós tem sua própria maneira de ficar em pé - nossa postura em pé é baseada na proporção do nosso corpo. Quando estiver em pé, seus calcanhares devem ficar separados um do outro a uma distância que corresponda à medida de seu punho: os dedões dos pés devem ficar alinhados com os mamilos. Assim como no zazen, temos que pôr alguma força no abdome. Aqui também suas mãos devem expressar o que você é. Ponha a mão esquerda contra o peito, com os dedos circundando o polegar, e a mão direita sobre ela. Colocando o polegar esquerdo apontado para baixo e os antebraços em linha paralela ao chão, você se sentirá firme como se estivesse seguro a uma grande coluna de um templo, sem possibilidade de encolher-se ou pender para os lados.
O mais importante é estar de posse do próprio corpo físico. Se você se encolhe, está se perdendo de si mesmo. Sua mente estará divagando alhures; você não estará presente em seu corpo. Não é assim que deve ser. Nós temos que existir no aqui e agora. Este é o ponto chave. Você tem que estar de posse de seu corpo e mente. Tudo deve existir no lugar certo e de maneira certa. Então não há problemas. Se o microfone que eu uso quando falo estiver colocado em outro lugar, ele não estará servindo ao seu propósito. Quando nosso corpo e mente estão em ordem, tudo o mais está no seu devido lugar, de forma certa.
Usualmente, sem que tenhamos consciência disso, tentamos mudar as coisas em vez de mudar a nós mesmos; tentamos arrumar as coisas que estão fora de nós. Mas é impossível ordenar as coisas se você mesmo não está em ordem. Quando você faz as coisas de forma certa, no momento oportuno, tudo o mais se organiza. Você é o chefe. Quando o chefe está dormindo, todos dormem. Quando ele faz algo bem feito, todos os demais o fazem igualmente bem e no tempo certo. Este é o segredo do buddhismo. Portanto, procure manter a postura correta, não apenas quando pratica zazen mas em todas as suas atividades. Adote a postura certa quando estiver dirigindo um carro ou quando estiver lendo. Se você lê numa posição displicente, não pode ficar lúcido por muito tempo. Experimente. Você descobrirá como é importante manter a postura correta. Este é o ensinamento verdadeiro. Ensinamentos escritos no papel não são verdadeiros ensinamentos, são alimento para o cérebro. Claro que é preciso alimentar o cérebro; porém, o mais importante é ser você mesmo praticando a forma correta de viver.
Eis por que o Buddha não pôde aceitar as religiões que existiam na sua época. Ele estudou várias religiões mas não ficou satisfeito com suas práticas. Não encontrou respostas no ascetismo ou nas filosofias. Ele não estava interessado nos aspectos metafísicos da existência, e sim em seu próprio corpo e sua própria mente no aqui e agora. E quando encontrou a si mesmo, descobriu que tudo quanto existe tem natureza búddhica. Essa foi sua iluminação. Iluminação não é uma sensação agradável ou algum estado particular da mente. O estado da mente que existe quando você se senta em postura correta é, por si só, iluminação. Se você não está satisfeito com o estado da mente que tem no zazen, significa que sua mente está divagando por aí afora.
E nosso corpo e nossa mente não devem oscilar nem vaguear. Nessa postura, não há por que falar em estado correto da mente. Você já o possui. Esta é a conclusão do buddhismo.

Respiração

Quando praticamos zazen, nossa mente sempre segue a respiração. Quando inalamos, o ar entra em nosso mundo interior. Quando exalamos, o ar sai para o mundo exterior. O mundo interior não tem Limites e o mundo exterior também é ilimitado. Nós dizemos "mundo interior" e "mundo exterior", mas, na verdade, só há um único mundo. Nesse mundo sem limites, a garganta é uma espécie de porta de vaivém, O ar entra e sai como alguém passando por uma porta de vaivém. Se você pensa "eu respiro", o "eu" está a mais. Não há um você para dizer "eu". O que chamamos "eu" é apenas uma porta de vaivém que se move quando inalamos e exalamos. Ela simplesmente se move, eis tudo. Quando sua mente está pura e calma o suficiente para seguir esse movimento, não há nada: nem "eu", nem mundo, nem mente, nem corpo. Só uma porta que vai e vem.
Assim, quando praticamos zazen, tudo o que existe é o movimento da respiração e, no entanto, estamos cônscios desse movimento. Não devemos nunca nos distrair. Mas estar consciente do movimento não significa estar consciente do eu pequeno, e sim da nossa natureza universal, ou natureza de Buddha. Esta consciência é muito importante porque em geral somos unilaterais. Nossa compreensão habitual da vida é dualista: você e eu, isto e aquilo, bom e mau. Na realidade, tais discriminações são, elas próprias, a consciência da existência universal. "Você" significa estar consciente do universo na forma de você, e "eu" significa estar consciente do universo na forma de eu. Você e eu somos portas de vaivém. E necessário este tipo de compreensão; porém, nem sequer deveria chamar-se compreensão já que é, isto sim, a verdadeira experiência da vida através da prática do Zen.
Assim, quando você pratica zazen, não há idéia de tempo e espaço. Você pode dizer: "Começamos o zazen neste recinto às quinze para as seis". Portanto, você tem alguma idéia de tempo (quinze para as seis) e alguma idéia de espaço (neste recinto). Na verdade, o que você está fazendo é apenas sentar-se cônscio da atividade do universo. E tudo. Neste momento, a porta de vaivém se abre numa direção, e no momento seguinte ela se abrirá na direção oposta. Momento a momento, cada um de nós repete essa atividade. Aí não há idéia nem de tempo nem de espaço. Tempo e espaço são um. Você pode dizer: "Preciso fazer algo hoje à tarde". Mas, na realidade, não há "hoje à tarde". Fazemos uma coisa depois da outra. Eis tudo. Não existe um tempo como "hoje à tarde" ou "uma hora" ou "duas horas". A uma hora você vai almoçar. O próprio ato de almoçar é à uma hora. Você estará em algum lugar, mas esse lugar não pode ser separado de "à uma hora". Para quem realmente aprecia sua vida, eles são a mesma coisa. Mas quando ficamos aborrecidos com a vida, podemos dizer: "Eu não devia ter vindo a este lugar. Teria sido melhor ir a outra parte para almoçar. Este lugar não é muito bom". Na sua mente, você criou uma idéia de lugar desvinculada do seu tempo presente.
Ou você pode dizer: "Isto é mau, eu não devo fazer isto". Na verdade, quando diz "eu não devo fazer isto", você está fazendo um não-fazer nesse preciso momento. Portanto, não há escolha para você. Quando você separa a idéia de tempo e de espaço, parece que há alguma escolha; mas, na realidade, você tem de fazer algo ou tem de fazer um não-fazer. Não fazer algo é também fazer alguma coisa. Bom e mau existem só na sua mente. Por isso você não deve dizer: "Isto é bom", ou isto é mau". Em vez de "mau", você deve dizer "não-fazer". Se você pensa "isto é mau", estará criando confusão para si mesmo. Assim, pois, na esfera da religião pura não há confusão de tempo e espaço, de bom ou mau. Tudo o que se tem a fazer é simplesmente executar as coisas tal como se apresentam. Faça alguma coisa! Seja o que for, devemos fazê-lo, mesmo que se trate de um não-fazer. Devemos viver neste momento. Assim, quando nos sentamos, concentramo-nos em nossa respiração, nos tornamos uma porta de vaivém e fazemos o que deve ser feito, algo que temos de fazer. Isto é prática do Zen. Nesta prática não há confusão. Se você estabelecer este modo de vida, não haverá confusão de nenhuma espécie.
Tôzan, um famoso mestre Zen, disse: "A montanha azul é o pai da nuvem branca. A nuvem branca é o filho da montanha azul. O dia todo eles dependem um do outro, sem que um seja dependente do outro. A nuvem branca é sempre a nuvem branca. A montanha azul é sempre a montanha azul". Eis uma pura e clara interpretação da vida. Pode haver muitas coisas como a nuvem branca e a montanha azul: homem e mulher, mestre e discípulo. Dependem um do outro. Mas a nuvem branca não deve ser importunada pela montanha azul. A montanha azul não deve ser importunada pela nuvem branca. Elas são totalmente independentes e, não obstante, dependentes. E assim que vivemos e é assim que praticamos zazen. Quando nos tornamos verdadeiramente nós mesmos, nos tornamos somente uma porta de vaivém: somos inteiramente independentes e, ao mesmo tempo, dependentes de todas as coisas. Sem ar não podemos respirar. Cada um de nós está no centro de miríades de mundos. Estamos no centro do mundo, sempre, momento a momento. Assim, somos completamente dependentes e independentes. Se você tem este tipo de experiência, este modo de existência, você tem absoluta independência; não será importunado por coisa alguma. Portanto, quando você pratica zazen, sua mente deve estar concentrada na respiração. Este tipo de atividade é a atividade básica do ser universal. Sem esta experiência, sem esta prática, é impossível atingir a plena liberdade.

As Ondas Mentais

"Uima vez que desfrutamos todos os aspectos da vida como um desdobramento da mente grande, não precisamos ir em busca de uma alegria excessiva. Assim, nossa serenidade é imperturbável."
Quando estiver praticando zazen, não tente deter seu pensamento. Deixe que ele pare por si mesmo. Se alguma coisa lhe vier à mente, deixe que entre e deixe que saia. Ela não permanecerá por muito tempo. Tentar parar o pensamento significa que você está sendo incomodado por ele. Não se deixe incomodar por coisa alguma. Pode parecer que essa coisa vem de fora mas, na verdade, são apenas as ondas de sua mente e se você não se deixar incomodar por elas, gradualmente se tornarão mais e mais calmas. Em cinco ou dez minutos, no máximo, sua mente estará calma, serena. Sua respiração então se tornará mais lenta e a pulsação, um pouco mais acelerada.
Leva um certo tempo até que a mente se acalme durante sua prática. Surgem muitas sensações, muitos pensamentos ou imagens, mas são apenas ondas da própria mente. Nada vem de fora dela. Em geral, pensamos que nossa mente recebe impressões e experiências do exterior mas isso não é uma compreensão correta da nossa mente. A verdade é que a mente inclui tudo; quando pensamos que algo surge de fora, isso quer dizer somente que algo surge na nossa própria mente. Nada exterior a si mesmo pode perturbá-lo. E você mesmo que cria as ondas da mente. Se deixar a mente como ela é, ela se tornará calma. Esta é a chamada mente grande.
Quando a mente está vinculada a algo fora dela própria, trata-se da pequena mente, uma mente limitada. Se sua mente não estiver vinculada a nada, então não haverá mais compreensão dualista na atividade de sua mente. Compreenderá que a atividade não é mais do que ondas da sua mente. A mente grande experimenta tudo dentro de si própria. Percebe a diferença entre ambas? A mente que tudo inclui e a mente ligada a alguma coisa em particular? Na verdade, elas são a mesma coisa a compreensão é que é diferente, e sua atitude perante a vida será diferente de acordo com a compreensão que você tiver.
Que tudo esteja incluído na mente é a essência da mente; e a experiência disto é a posse do sentimento religioso. Embora as ondas surjam, a essência da sua mente é pura, como água clara com poucas ondas. Na verdade, a água tem sempre ondas. Elas são a prática da água. Falar de ondas separadas da água, ou da água separada das ondas, é uma ilusão. Água e ondas são uma só coisa. A grande e a pequena mente são uma só. Quando você entender sua mente desta maneira, terá alguma segurança em seus sentimentos. Como sua mente nada espera de fora, ela está sempre completa. Uma mente com ondas não é uma mente perturbada e sim ampliada. Qualquer coisa que você experimente é uma expressão da mente grande.
A atividade da mente grande é ampliar a si mesma através das diversas experiências. Em certo sentido nossas experiências, ocorrendo uma a uma, são sempre frescas e novas, mas em outro sentido não passam de um contínuo e repetitivo desdobramento da mente grande. Por exemplo, se há algo bom para o desjejum, você dirá "isto é bom". O "bom" provém de alguma coisa experimentada há tempos, ainda que você não lembre quando. Com a mente grande, nós aceitamos cada experiência do mesmo modo que reconhecemos a face que vemos no espelho como a nossa própria face. Para nós, praticantes, não existe o medo de perder essa mente. Não há qualquer lugar, nem para onde ir, nem de onde voltar; não existe medo da morte, do sofrimento da velhice ou da doença. Uma vez que desfrutamos todos os aspectos da vida como um desdobramento da mente grande, não precisamos ir em busca de uma alegria excessiva. Assim, nossa serenidade é imperturbável, e é com essa imperturbável serenidade da mente grande que praticamos zazen.
Suzuki, Shunryu. Mente Zen, Mente de Principiante.
Editado por Trudy Dixon, prefácio de Huston Smith,
introdução de Richard Baker, tradução de Odete Lara.
São Paulo: Palas Athena, 1994. Pág. 23-29, 32-34.

Como Praticar Zazen

Ilustrações da Sôtô-shû

Gasshô
É um expressão de respeito, fé e devoção. Junte as palmas e os dedos de ambas as mãos. Quando as duas mãos (a dualidade) se juntam, representam o Coração-Mente (a não-dualidade).
Shashu
Coloque o polegar de sua mão esquerda no meio da palma, faça um punho diante do peito e cubra com a outra mão, colocando o polegar da mão direita sobre a mão esquerda. Os antebraços fazem uma linha reta, com os ombros um pouco distantes do corpo.
Rin'i-monjin
No seu lugar, faça uma reverência em gasshô e gire no sentido horário.
Taiza-monjin
Novamente, na direção oposta, faça mais uma reverência em gasshô.
Kekka-fuza
Coloque o pé direito sobre a coxa esquerda e o pé esquerdo sobre a coxa direita.
Hanka-fuza
Se você não conseguir se sentar em kekka-fuza, apenas coloque o pé esquerdo sobre a coxa direita.
As costas
Sente-se com as costas eretas, sem se inclinar para a esquerda ou para a direita, nem para frente ou para trás.
Hokkai-jôin
Coloque sua mão direita sobre o pé esquerdo, com a palma voltada para cima, e então coloque as costas da mão esquerda sobre a palma da mão direita. As pontas dos polegares devem se tocar levemente.
Os olhos
Mantenha os olhos entreabertos, voltados para o chão, num ângulo de visão de 45 graus, sem focalizar qualquer ponto.
Kanki-issoku
Exale completamente e inspire. Faça calmamente uma profunda exalação e inalação. Abra levemente a boca e exale, suave e vagarosamente. Para exalar todo o ar dos pulmões, comprima o abdômen. Então feche a boca e inale naturalmente pelas narinas. A língua deve ficar encostada ao céu da boca. Este processo é chamado kanki-issoku.
Sayu-yôshin
Deixe a base da espinha no centro do zafu, a almofada arredondada. Balance o tronco para os lados, diminuindo o ângulo até parar, centralizando a coluna vertebral sobre o zafu.
Kyosaku
Faça um gasshô e, após receber uma leve batida, incline a cabeça para a esquerda. Depois da batida forte, estique a coluna e faça um reverência, com as mãos ainda em gasshô.
Kin'hin
Mantenha as mãos em shashu e caminhe lentamente, dando meio passo a cada respiração.

Kakusoku

Não se concentre sobre qualquer objeto específico, nem tente controlar seus pensamentos. Mantendo a postura e respiração corretas, sua mente se tranqüilizará naturalmente. Quando os vários pensamentos surgirem, não tente agarrá-los ou empurrá-los; deixe-os ir livremente. O mais importante é despertar (kakusoku) da distração e da fixação, da sonolência e do pensamento, retornando à postura correta, momento a momento.
Um sino é tocado como sinal para marcar o início e o fim das sessões de Zazen e Kin'hin:
  • quando o Zazen começa, o sino é tocado três vezes (shijosho);
  • quando o Kin'hin começa, o sino é tocado duas vezes (kin'hinsho);
  • quando o Kin'hin termina, o sino é tocado uma vez (chukaisho);
  • quando o Zazen é terminado, o sino também é tocado uma vez (hozensho).
Ao final do Zazen, faça uma reverência em gasshô. Balance o corpo levemente para os lados, desdobre as pernas cuidadosamente e se levante, sem movimentos abruptos. Arrume o zafu e deixe o seu assento.
Ao final do Kin'hin, faça uma reverência com as mãos em shashu e caminhe lentamente até o seu assento.